Arigatou!

De acordo com a embaixada do Japão no Brasil, em 18 de junho de 1908 o navio Kasato Maru chegou em Santos com os primeiros 781 imigrantes japoneses

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A imigração japonesa no Brasil se intensificou na primeira década do século 20, período do veto americano à entrada deles em seus territórios. Por aqui, havia uma preocupação em substituir o trabalho escravo, abrindo desta maneira a porta para os asiáticos. No Japão, os olhos se abriram para a fase de transformação política, econômica e social. Era a Restauração Meiji.
Apesar da discriminação inicial, ao longo dos anos foi reconhecida a grande importância da colônia nipônica no Brasil, que trouxe em suas veias o sangue asiático e sua garra e filosofia orientais, ganhando a admiração dos brasileiros. Uma história de mudanças que transformou a todos e criou uma nação com issei (imigrantes japoneses), nissei (filhos de japoneses), sansei (netos de japoneses), yonsei (bisnetos de japoneses), gossei (trinetos de japoneses), rokussei (tetranetos de japoneses) e shichissei (pentanetos de japoneses).

Em Marília, segundo texto elaborado no ano de 1996 pelo professor sênior em idioma japonês Yoshitaka Mori, da Agência de Cooperação Internacional do Japão, que permaneceu na cidade de julho de 1995 a julho de 1998, no ano de 1926, o município recebeu os primeiros imigrantes japoneses, cerca de seis famílias. Três anos mais tarde, em 1929, mais imigrantes desembarcam em Marília e, assim, sucessivamente. No ano de 1935, já somavam aproximadamente 600 famílias, fixadas na lavoura, comércio e na indústria. Em 1950, número já era de 4,4 mil, a maior população por etnia, exceto a brasileira.

Em 1979, Nelson Koshe Ichisato plantou as primeiras mudas de cerejeiras no entorno do lago artificial em Garça

O texto elaborado por Mori teve como base os depoimentos de Hajime Kobari, Yoshimi Shintaku e Shigueru Ishibashi e foi traduzido por Rubens Otok.
Uma das histórias de superação e empreendedorismo nipônico é da indústria Sasazaki, que começa com o desembarque no porto de Santos da família que dá nome à empresa.

Em 1933, após dez anos da chegada ao Brasil, os irmãos Kosaku e Yusaburo trocaram Guaimbê por Marília e junto com o amigo Kyomassa Shibuya e mais três irmãos, Yutaka, Hachiro e Tochimiti, fundaram a empresa. Com a modernização, trocaram a fase manual e lançaram equipamentos agrícolas motorizados. Após as imposições dos fenômenos climáticos da agricultura, decidiram fabricar esquadrias metálicas, o que colocou a empresa como uma dos maiores fabricantes do segmento.

NIKKEY CLUBE / Preservando a cultura e compartilhando-a com os brasileiros, ocorre a fundação da Associação Cultural e Esportiva Nikkey de Marília, com denominação inicial de Associação Japonesa de Instrução, em 1930, e estatuto registrado cinco anos depois.

Grupo de taiko Hibiki Wadaiko do Nikkey é uma das grandes atrações do Japan Fest

Em 1991, no dia 1º de dezembro, entidade passou a ter o nome atual e objetivos são divulgar e preservar a cultura japonesa junto à comunidade, principalmente os descendentes, promovendo sempre o intercâmbio cultural Brasil-Japão. O Nikkey de Marília realiza todos os anos o Japan Fest, mais famoso evento nipônico da região, que este ano teve sua 16ª edição e recebeu visitantes de várias cidades que puderam saborear comidas típicas e conferir danças, músicas e artesanatos orientais.

Cerejeiras orientais em Garça

Nascido em Oshima, Yamagu-tiken, no Japão, Nelson Koshe Ichisato, após uma viagem a Campos do Jordão, resgatou da sua memória os piqueniques, conversas e encontros de famílias ao redor das cerejeiras, que na terra do sol poente têm um espírito de confraternização e preservação.
Foi aí que em 1979 ele plantou as primeiras mudas de cerejeiras no entorno do lago artificial em Garça. A cerejeira tem uma grande importância, pois a cultura nipônica remete a árvore à lembrança dos samurais.

Festa da Cerejeira em Garça recebe visitantes de várias cidades e apresenta dança, gastronomia e música orientais

Como a cerejeira floresce imponente pela manhã e as flores morrem no final da tarde, para os japoneses elas são como os guerreiros que escolhem morrer pelos seus mestres sejam qual for as circunstâncias.
A Secretaria de Turismo e Eventos de Garça realizou nos dias 28, 29 e 30 de junho o maior evento da cidade e um dos maiores da cultura japonesa no Brasil: Cerejeiras Festival. Evento comemorou os 110 anos da Imigração Japonesa no Brasil.

Pompeia, uma relevante história

Um grande exemplo da ajuda que os imigrantes deram ao Brasil com trabalho árduo e geração de empregos está em Pompeia, a 30 quilômetros de Marília, onde está instalada a “mega-indústria” Máquinas Agrícolas Jacto, com unidade recém-inaugurada na Argentina, mas com presença em 110 países com equipamentos e soluções para agricultura de precisão nos segmentos de pulverização e adubação, além de colhedoras para café.

Em Marília, os primeiros imigrantes japoneses chegaram no ano de 1926, com cerca de seis famílias. Em 1935, já somavam aproximadamente 600

Para celebrar os 110 anos da imigração japonesa no Brasil, a FIVE consultou uma relíquia: a biografia escrita pelos filhos de Shunji Nishimura, fundador da indústria Jacto. E não é só isso: nossa edição teve acesso a informações inéditas do Museu “Shunji Nishimura”.
“A Jacto nasceu em 1948, em Pompeia, pelas mãos do imigrante japonês Shunji Nishimura, a partir de sua experiência em consertar equipamentos agrícolas. Ao longo de sua história, deu origem a outras unidades de negócio – hoje reunidas em um grupo empresarial sólido e em constante crescimento”, informa o portal da empresa que destaca, ainda, que compartilha seus resultados também com as comunidades onde está presente, por meio da criação e manutenção de escolas.

● Shunji Nishimura representa bem a história dos imigrantes japoneses no Brasil

O imigrante, técnico em mecânica, Shunji Nishimura, nascido em Uji, província de Kyoto, chegou ao Brasil em 1932, com 21 anos de idade, em busca de uma vida melhor.

Trabalhou na colheita de café, como torneiro e soldador e fabricou latas para acondicionar o chá preto em várias cidades brasileiras.

Em fevereiro de 1939, Shunji, junto de sua esposa Chieko Suzukayama, decidiu tentar a sorte no interior do Estado. Tomou o trem em São Paulo com destino à região da Alta Paulista e desembarcou no ponto final da linha, a cidade de Pompeia, um pequeno vilarejo à época, distante 472 quilômetros da Capital, que atualmente segundo o IBGE, se destaca pelo potencial industrial no segmento de alimentação e tecnologia. Por meio da Fatec “Shunji Nishimura”, município possui o inédito curso de mecanização em agricultura de precisão, único no mundo, e o curso de big data no agronegócio, referência nacional.
Em Pompeia, Shunji alugou uma casa e afixou na frente uma tabuleta: “Conserta-se tudo”. Nessa oficina, Nishimura também era procurado pelos agricultores para consertar suas polvilhadeiras de defensivos, que eram importadas e não tinham assistência na região. De tanto consertá-las, ele criou um novo modelo, melhor e mais fácil de usar. Era a primeira polvilhadeira criada no Brasil e o primeiro produto com a marca Jacto, em 1948.

Acesse a página da fundação Shunji Nishimura e saiba mais: www.fsnt.com.br

Shunji Nishimura, que dá nome ao museu da cidade de Pompeia, conduziu a Jacto Máquinas Agrícolas até 1972. A partir daí passou a se dedicar ao desenvolvimento de projetos de novos produtos, como a primeira colhedora de café, e continuou a orientar as decisões e estratégias da companhia. Faleceu em 23 de abril de 2010, aos 99 anos.
O museu “Shunji Nishimura”, inaugurado em 21 de abril de 2012, é uma homenagem a esse grande imigrante. Nele, estão documentos e objetos que marcam a saga de Shunji: as primeiras máquinas, as homenagens recebidas, viagens e registros que retratam sua trajetória, somando 5,3 mil visitantes no ano passado, sendo 334 oriundos de outros países, informa Talita Cristina da Silva, uma das coordenadoras do espaço.

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